sábado, 5 de dezembro de 2009

Progressão geométrica

Três amigos conversando, entra outro amigo no quarto, pra buscar alguma coisa, pega só um pedacinho da conversa:
- ... aí eu flamenguista, meu pai vascaíno, fico só escutando ele falar merda lá...
Uns dez minutos depois, o outro amigo volta lá no quarto pegar alguma outra coisa, e a conversa:
- ... na verdade parece que tem até dinheiro das FARCs envolvido, ele foi lá pra Colômbia com uns pastores...
Outros dez minutos depois, ele volta lá por algum outro motivo, e ouve:
- ... e é essa totalidade, cada molécula, energia e matéria!

Teve medo de entrar outra vez no quarto.

sábado, 8 de agosto de 2009

Ensaio sobre As Portas da Percepção

Aula de química sobre reações orgânicas, uma folha em branco na carteira e nenhuma inspiração: são esses os reagentes. O produto são mols e mais mols de uma agonia profunda, uma bolha de ar se contorcendo no miocárdio, um vazio físico e psicológico no peito. A única morfina funcional para patologias como essa é escrever, mesmo sem a inspiração, sem parar, num fluxo de consciência, sinapses disconexas no cérebro que percorrem todos os neurônios do cérebro e se juntam apenas na ponta dos dedos da mão direita, em forma de letras em ordem quase aleatória, formando idéias quebradas e incompletas. Vez por outra o fluxo trava e os potássios param de pular para fora e para dentro dos axônios, e o impulso fica entalado dentro das curvas e vales do cérebro. Milhões e milhões de idéias nunca escapam de dentro daquelas fendas - seria necessário limpar um cérebro com um cotonete para encontrar cada pensamento que nunca chegou à parte consciente. Existe uma corrida de impulsos elétricos: criados no Id, como espermatozóides expelidos de tubos seminíferos, tentam chegar ao cosnciente como os gametas masculinos correm ao óvulo, o prêmio final. Entretanto poucos sucedem. A válvula que separa a consciência limitada necessária para a sobrevivência biológica da inconsciência completa, que vislumbra toda a realidade natural, é uma válvula estreita e difícil de ser alargada. Alargá-la demais para sempre pode ser prejudicial: é a seqüela que desacelera e desestabiliza o instinto biológico de sobrevivência. Deixá-la muito estreita a vida inteira é igualmente prejudicial - é a alienação, a impossibilidade de ver além do óbvio e do evidente, a impossibilidade de intepretar a fundo fatos e pessoas e a natureza. Um equilíbrio é necessário. Como qualquer ser vivo, a válvula cerebral deve respirar. Alargar-se e estreitar-se a intervalos de tempo regulares ou irregulares. Estreitá-la quando for necessário concentrar-se, agir, pôr em prática o psicológico. Alargá-la nos backstages - nos intervalos entre um episódio e outro da vida, alargá-la para dar chance ao cérebro de respirar, liberar mais descargas elétricas, o momento para interpretar e estudar o ao-redor, os acontecimentos exógenos, a sociedade. O cérebro respira e se irriga de sangue, que traz oxigênio. Mas o oxigênio, enquanto se encarrega da respiração mais molecular, é limitado. Outras substâncias podem vir no sangue, que abrem a válvula, e se encarregam da respiração psicológica.

segunda-feira, 16 de março de 2009

ENSINO
INSINO
INSANO


idéia de Hugo Limeira

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sobre a Ditadura & a Inútil Pressão Exercida Pelas Escolas

Função sintática, morfológica, nitrogenada, oxigenada, quadrada, biquadrada, trigonométrica, modular, de primeiro, segundo e terceiro grau, logarítmica, estruturalista, funcionalista, de onda, linear, periódica, bijetiva, injetiva, sobrejetiva, par, ímpar, zerinho ou um. E como é que eu fico?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Para quem gosta de música...

... o que vem a seguir pode ser desconcertante.

The Collective Family - "A Collective não é uma gravadora, nem um site de distribuição via internet, nem um selo na internet. Nós preferimos imaginar a Collective como uma família de artistas que se ajudam como podem, e que fazem música porque adoram fazer música. A Collective é um lugar em que os artistas alcançam pessoas que, de outra forma, nunca escutariam sua música. Um lugar mágico em que as árvores são feitas de açúcar e a grama de alcaçuz, onde as nuvens sorriem e acenam e as pessoinhas riem." Não tem descrição melhor que essa. Sob o slogan de «We'd rather have our music heard than sold», a Collective Family é um gigantesco acervo de música de todo tipo; gravadas na garagem, no quarto ou no banheiro, com microfones de computador, gravadores de fita cassete ou mp3 players com opção de gravar. Ukuleles nervosos, percussões improvisadas, instrumentos desconhecidos, tudo para criar um som totalmente diferente de tudo que o mainstream da mídia conhece: música artesanalmente psicodélica, folks demenciais reminescentes de Syd Barrett, a criatividade solta graças à falta de recursos para imitar o Piper at the Gates of Dawn. É o site que a RIAA não quer que você descubra.


«If you had a choice between a thousand dollars and a thousand fans, which one would you choose? I would rather have people listen to my music and love it. If you're making music for the money, well, you should probably become a lawyer or something. Music is an art, not a business. It's possible to make money from it all, of course. But that's second to the sound.»


Por coincidência eu também faço música artesanal, se alguém estiver interessado. Alguns dos projetos de que eu já participei:

Tøsk - O começo de tudo, o fogo que arde e ao mesmo tempo que aquece. Idealizado por Pedro, o Tosco, no verão do ano de 2007, na forma de quatro arquivos de som que revolucionariam nossas vidas. Já na primavera do mesmo ano, o projeto já tinha nome e um membro a mais - eu, que participei de uma sessão de gravação no estúdio Peterhjem onde aproximadamente mais cinco músicas foram feitas. Depois disso, Tøsk começou uma carreira de gravações esporádicas, anarquistas, nonsense, entrevistas, apresentações ao vivo, seguidores tão medonhos quanto os artistas, e tornou-se um ícone mitológico entre quem o conheceu. É impossível permanecer indiferente aos gritos de INHAME, MACAXEIRA e BATATA-DOCE. Recentemente recebemos um novo membro, que contribuiu com algumas das músicas mais marcantes: Stéfano. A produção musical de Tøsk tem diminuido ultimamente, e depois de muitos falsos-fins, pode ser que esteja realmente morrendo. A grande obra-prima de Tøsk, o CD Las Tosquiações, já tem 50 músicas prontas, de um total de 69 planejadas. Essas 19 músicas que faltam um dia serão feitas. Mas ninguém sabe quando.

Matteo Ciacchi & His Talking Penguins - Uma das coisas que Tøsk me ensinou foi a fazer música. Às vezes você não tem nada a fazer e com objetos que estão ao seu redor você consegue fazer uma pequena peça sonora e, se quiser, chamá-la de música. Esses pingüins falantes nasceram como uma forma de passar o tempo, e evitar que Tøsk tivesse muita música feita só por mim. Mesmo assim algumas músicas dos pingüins falantes acabaram no Las Tosquiações. Eu também não sei de onde veio esse nome, só sei que acabei fazendo dois CDs cheios de efeitos sonoros. Audacity é um grande companheiro nessas horas.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Raicai

Cinco sílabas
E também outras sete
Cinco de novo

domingo, 16 de novembro de 2008

Auto-Estima

Cansado da putaria, Deus desce e diz:
"Eu não existo, pelo amor de deus!", e disse em minúscula mesmo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Não adianta consertar o buraco


Às seis da manhã é impossível permanecer sóbrio - sua mente o entorpece e você toma as decisões mais importantes da sua vida, enquanto do seu lado uma pirralha canta Jonas Brothers

ou qualquer lixo que tocar na rádio

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O surreal tem limites que a realidade ignora

Era cedo de manhã quando, num dia comum, Jarbas subia um lance de escadas. Foi então que escutou um guincho e barulhos estranhos feitos com a boca. Não mais que de repente, dois de seus amigos aterrissaram em sua frente com um pulo, descendo as escadas pulando cinco degraus de uma vez e fazendo barulho enquanto pulavam esquizofrenicamente. Jarbas olhou para um deles, cujos cabelos se irradiavam caoticamente para todos os lados e que tinha uma corda amarrada no pulso direito. No mesmo braço alguma coisa lhe chamou a atenção. Jarbas pegou seu braço direito e leu o que estava escrito com grandes letras azuis em pincel atômico: HEXÁGONO.
Jarbas continuou a subir as escadas. Não era mais um dia comum.

Non sequitur

Assisto de longe enquanto diante dos meus olhos passa uma procissão de personagens que parecem vindos de um desenho animado – uma espiral de cores dá lugar a uma flor diante de uma árvore, da qual sai correndo um coelho branco, que foge de algo desconhecido, e corre pela floresta, corre pelas árvores, passa por ursos e outros animais, pula um lago e esbarra numa árvore onde se encontra um macaco. Da árvore cai uma colméia que o macaco não hesita em comer. O próprio Zé Colméia se junta ao conjunto. De repente estamos num quarto, discutindo qualquer coisa que eu não sei; nunca tinha visto aquele quarto antes: era um vão entre duas estantes de alumínio cheias de livros. Asdrúbal diz alguma coisa interessante e nós saímos de lá. De repente é tarde da noite, um povo que nunca vi discute algo sério, e a noite passa rapidamente. “Já amanheceu?”, pergunto. Lá fora o sol subia no céu rapidamente, e jogava uma luz brilhante no céu, em parte azul e em partes ainda negro como a noite. Em algum lugar alguém aperta um interruptor invisível, e todo o lento alvorecer subitamente vira noite profunda, junto com o clique do interruptor. Olho maravilhado pela janela admirando a esquizofrenia da natureza.